sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Maria!


Ando pensando no tempo em que passei ao lado de Maria...

Maria, sim, que era mulher de verdade!

Me lembro das manhãs em que Maria me acordava para ir trabalhar. Com um beijo macio e ainda seco me acordava e com o odor que saia de tua boca me despertava. Nem os passarinhos, nem o galo, o bafo de Maria era como uma injeção de adrenalina em minhas veias. Era mais do que acordar, era despertar do sono pronto pra labuta.

Depois de acordar, Maria me preparava um pão com manteiga e um cafézinho. O pão ficava encharcado de manteiga. O cafézinho também não era lá aquelas coisas, mas só de vê-la se empenhando para fazer o café já era suficiente para me fazer sentir o melhor homem do mundo.

Após cinco horas de trabalho debaixo de sol quente, pegava minha marmita e ia almoçar. Apesar de sempre ficar com a pulga atrás da orellha, pelo fato de Maria sempre insistir pra eu levar marmita ao invés de ir almoçar em casa, comia minha marmita como se fosse o último prato de comida do mundo, chegava até me emocionar entre uma colherada e outra.

Enfrentar 12 horas de trabalho por dia não era fácil, mas só de saber que ao chegar em casa iria encontrar minha Doninha, toda orgulhosa do marido que tem, já me dava ânimo pra colher até o fim do dia.

Sempre quando o ônibus ia se aproximando de casa eu ouvia um som de carro velho partindo, bem lá no fundo do horizonte, ficava tão encucado que pedia pro motorista parar o caminhão que ia eu correndo a pé mesmo, vai que eu pegava o 'sujeito' pelas costas. No final das contas, a única coisa que conseguia era ouvir Maria, que sempre estava no banheiro essa hora, reclamar da minha encucação. O que me deixava mais encucado era que ela nunca explicava o barulho de carro, sempre mudava de assunto.

Maria era toda sistemática, todo dia, antes da janta e na hora que eu chegava, sempre estava no banheiro, e pensando bem, até que é uma boa tática, você esvazia pra depois encher denovo. Mas o que mais me impressionava era como o cheiro do pum de Maria era tão fedido, parecia até que tinha comida estragada em casa, uai. Como era possível sair uma coisa tão fedida de uma moça tão bonita ?

Depois, já de banho tomado, Maria ia finalmente jantar. Geralmente estava com rosto pálido e o corpo mole. Acho que de tanto limpar a casa a coitada já estava quase discoriando.

Eu sempre tomava banho depois de comer, é que cai tanto raio aqui na fazenda que eu tenho cisma de morrer debaixo do chuveiro. E de bucho vazio não teria chance de sobreviver.

Depois da janta, iamos assistir a novela. Quando a novela ia chegando ao fim, meus olhos já pesavam. Maria repetia várias vezes: Vá dormir Genivaldo, amanhã tem mais um dia de muito trabalho. Não demorava muito e já me fazia cair no sono. Já cheguei até a pensar que Maria colocava um remedinho no suco pra eu beber e dormir. Eu sempre fui meio paranóico. Ficava sonhando que Maria fugia de noite pra ir pra sem-vergonhice, chegava até a ouvir vozes estranhas, tem base uma coisas dessas ?

E assim se repetia todos os dias, tirando o natal e o reveillon, que nós sempre faziamos algo especial. Ah... deixando de fora também os dias, ou melhor, as noites, em que a gente fazia aquilo. Você sabe né ? Aquilo que todo casal faz. Pra ser sincero, Maria nunca foi boa de cama, acho que ela não gostava muito da coisa, tanto que nunca tivemos um filho, mesmo depois de 5 anos casados.

Maria se foi faz um ano, e o pior de tudo é que perdi meu irmão ao mesmo tempo. Dorico, meu irmão, perdeu o controle do seu fusquinha 67 e bateu de frente com um camnhão de leite. Os dois estavão indo ver os exames de Maria na cidade. Sabia que o acidente foi tão grave que chegou a explodir o fusquinha e queimar os dois vivos ? Maria e Dorico viraram cinzas. Nem pude vê-los sendo enterrados.

Maria não merecia morrer assim. Ainda repito todos os dias lá nos cafézais de São Gotardo:

Maria, sim, que era mulher de verdade!

(Marcus Paulo Moreira Matias)

domingo, 17 de outubro de 2010

Que horas são ?


Pô bixo!
Tu já parou pra pensar ?
Tem relógio de parede.
Tem relógio de pulso.
Tem relógio digital.
Tem relógio analógico.
Tem o relógio dos cristãos.
Tem o relógio dos índios.
Tem o relógio do meu avô que também é da minha vó.

Sinceramente,
To começando a achar que tem pouco tempo pra tanto relógio.

Acompanha o raciocínio:

Se cada relógio marca uma certa hora, qual é o relógio que marca a "verdadeira" hora exata neste momento ?

Qual e o "relógio-mestre" ? E se ele estiver errando em sua contagem do tempo. E mesmo se todos os relógios marquem a mesma hora, dá pra confiar ?

E digo mais: Nenhum relógio marca a "verdadeira" hora exata, afinal de contas, a hora e os minutos podem estar iguais, mas e os milésimos, os milionésimos, os mi... mi... de segundo ??

Nenhum relógio marca a hora certa. Nenhum relógio marca a mesma hora que o outro. Cada relógio marca uma hora, que pra quem vê será a hora correta.

...

E mesmo que acertem todos os relógios do mundo, SEMPRE VAI TER UM PRA CONTRARIAR!

(Marcus Paulo Moreira Matias)


... "Mãe, ficou bom o texto ? Ficou. Só faltou o relógio do patrão, que sempre acha que nós estamos atrasados."

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Quem vai parar a dor do mundo ?


Na cama, me remexo de um lado para o outro, pra direita, pra esquerda, pra cima e até pra baixo, como se mudando de posição a questão fosse ser resolvida...

...

Afinal de contas, QUEM vai parar a dor do mundo ?

Será Jesus com seu infinito amor ?
Será a internet e as suas infinitas informações diárias ?
Serão os antidepressivos ?
Será a morte ?
Será a oração ?
Será a poesia ?
Será Nossa Senhora de Aparecida ?
Serão os alucinógenos ?
Será eu ? Será você ?
Será a heroína ?
Será a morfina ?
Será a música ?
Será o Ronaldo ?
Serão as crianças ?
Será o Lula ?
Será o Chaves ?
Será o arroz e o feijão ?
Será Deus ?
Será o Diabo ?
Será Chico Xavier ?
Será Chico Buarque ?
Será minha Mãe ?
Será a terapia ?
Serão as belas pernas da vizinha ?


Não será ninguém.


E até que provem o contrário, a dor será o combustível do mundo. Ela pode até acabar, mas com ela o mundo acabará junto.

E já que pelo visto ainda vai ter muita dor pra gente queimar, fica uma outra questão:

A dor é constante ? Quanto tempo dura o intervaldo de satisfação/alívio/prazer entre uma dor e outra ? Segundos ? Milésimos ?

Deixa pra próxima meu caro, agora tenho de ir tomar minha Sertralina. Preciso estar renovado pra assistir o jogo do meu Verdão.

(Marcus Paulo Moreira Matias)

terça-feira, 1 de junho de 2010

Como uma pipa


Se notares, meu bem,
a nossa vida é como uma pipa.
Nós somos a pipa.
A linha é a nossa coragem, o nosso desejo, as nossas vontades e objetivos.
É como um caminho que percorremos até chegar ao nosso destino.

Há pessoas que não tiram suas pipas do chão com medo de que elas se arrebentem no caminho, outras se enchem de coragem e buscam vôos mais altos, desejam mostrar a sua força e beleza a todos os cantos e se esquecem de que quem sustenta a sua pipa é uma linha tensa que se estica, fica tensa e qualquer toque ou um simples sopro forte e maldoso do vento pode quebrar o seu vôo, jogando sua pipa pra qualquer canto desconhecido e sombrio.

Não nego, até hoje não voei alto.
Penso muito. Imagino muito. Fico sonhando com a minha pipa plainando sobre o ar, sobre as casas das mocinhas e sobre os carros dos rapazes. Hoje, quando o vento sopra forte, eu a recolho. Minha mão treme. Me encolho. Enfio minha pipa num buraco e espero a ventania passar.

Talvez não adiante esperar o momento certo para soltar nossas pipas, afinal de contas, quem decide a intensidade do vento ? Quem controla a força da minha linha ? Quem vai deixar, ou até mesmo colocar algo cortante no meu caminho ? Quem escolhe qual pipa sobreviverá as adversidades ?

Ainda não tenho, mas hei de ter coragem de um dia erguer minha pipa. E que os ventos soprem o suficiente para me deixar nem muito alto, nem muito baixo, mas na altura da sua pipa, meu bem, onde poderemos cruzar nossas linhas e mesmo que uma derrube a outra...

De que vale guardar a pipa se a pipa foi feita pra voar ?

(Marcus Paulo Moreira Matias)

Desculpe o tempo sem postar, afinal de contas, estava apenas esperando a ventania passar...
;)