segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Eu, o vazio e a luz

Luz na escuridão


Quando dei por mim, estava nu, numa escuridão sem fim. Não tinha chão, nem tinha teto. Não sentia vento e não enxergava uma estrela. Estava só. Era apenas eu e o vazio.

Gritei por socorro e não tive resposta. Flutuei por milhas de nada em busca de algo palpável e nada encontrei. Chamei por Deus e nada aconteceu. Chorei feito criança clamando por piedade, mas não resolveu.

Os segundos se transformaram em horas, os pensamentos já se emaranhavam e o sono não vinha. Fome também não tinha. Eu só queria sair dali.

E no momento em que o desespero começou a tomar conta de mim, eis que surge uma luz ofuscante e perturbadora, que me acordou pra vida. Era a minha amada mãe que acendeu a luz do quarto pra me acordar do pesadelo e avisar que eu estava atrasado pro trabalho.

(Marcus Paulo Moreira Matias)

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Amanda


Era inverno. O sol já se findava, mas ainda podia se encontrar alguns feixes de luz. O vento frio e seco que adentrava o quarto de Amanda pela janela ia esfriando cada vez mais seu coração.

Amanda estava deitada, pálida e moribunda. Ela não tinha planos. Por sua mente não se passava nenhum pensamento. Havia bebido um copo d'água há dois dias. Na boca seca e trêmula era visível as marcas de dolorosas mordidas.

Amanda não reagia. Qualquer desvio do olhar já lhe fazia chorar profundamente. Tirar o pensamento do vazio significava ter de enfrentar sua infinita dor.

Ela estava só. Fadada a si mesma. O rádio tocava sua música preferida infinitas vezes, mas era como silêncio pra aquela menina.

Amanda suspirou, fechou os olhos e adormeceu...

Foi então que uma borboleta, daquelas que andam sozinhas por aí, adentrou no quarto pela janela e pousou na ponta do nariz de Amanda.

Amanda despertou, abriu os olhos e se espantou com a beleza daquela criatura.

Ela lembrou-se de sua infância, de quando brincava com seu irmão no quintal de sua casa, próximos de árvores, flores e claro, das borboletas.

Com a mão trêmula, ela encostou na borboleta, que aquietou-se em seu dedo. Amanda sorriu. Os olhos brilharam e o coração disparou.

Com extremo cuidado, Amanda foi até a cozinha e pegou um pote, onde prendeu a borboleta.

Amanda estava reagindo. Acompanhada da borboleta ela comeu, lavou-se, arrumou-se e foi caminhar.

Neste dia pareceu até que o sol demorou um pouco mais a se pôr só para poder ver Amanda sorrir.

...

Amanda caminhou até a praça e sentou-se no gramado. Tudo parecia estar voltando ao normal, mas ao olhar para o pote, Amanda notou que a borboleta estava fraca e pálida, assim como ela se encontrava há algumas horas.

Amanda entrou em um dilema. Ela não sabia o que fazer. Ao mesmo tempo que tinha medo de soltar sua companheira e voltar à sua tristeza sem fim, ela sabia que não era justo manter a borboleta na mesma situação que ela se encontrava.

Foi então que Amanda decidiu soltá-la. A borboleta cambaleou, mas voou, pra bem longe... onde poderia alegrar novas vidas.

Doeu, mas ela soltou. Por mais que lhe fizesse bem, Amanda sabia que não era justo prendê-la.

E pra quem gosta de finais felizes, saiba que de vez em quando a borboleta vai visitar Amanda, que agora vive bem, apesar de tantos pesares.